Asílio Nossa Senhora da Graça
Fundação Lopes Tavares
O aparecimento de uma Instituição de benemerência na vila de Nisa, deve-se ao facto de o Dr. António Bebiano Biscaia e Hortas, casado com Dª. Catarina Angélica de Barros Almadarim e posteriormente em segundas núpcias com Dª. Catarina Mouzinho de Vasconcelos. Pois o Casal, Dr. António Bebiano Biscaia e mulher Dª. Catarina Mouzinho de Vasconcelos, era possuidor de vasta fortuna e que o Povo de Nisa sempre considerou como seus grandes benfeitores. Este casal acolheu em sua casa a sua afilhada Dª. Catarina Fialho, que casou com o Dr. José Joaquim Lopes Tavares.
Do casal nasceram dois filhos: Dª. Palmira Fialho Lopes Tavares e José Fialho Ferro Lopes Tavares a quem Dª. Catarina Fialho veio a legar-lhe os bens com reserva de usufruto para os pais.
José Fialho, serviu de Embaixador de Portugal em Paris mas veio a falecer novo.
Dª. Palmira Fialho Ferro Lopes Tavares, natural da Freguesia da Foz, casou com D. António Lobo da Silveira (Alvito), nascido em Pombal em 1 de Março de 1875, e faleceu na sua casa de Lisboa em 16 de Fevereiro de 1961, sem que do casal tivesse havido filhos. Era filho de Manuel Lobo da Silveira e de Dª. Adelina Jorge Lobo da Silveira.
Dª. Catarina Mouzinho de Vasconcelos por morte de seu marido, Dr. António Bebiano, veio a casar mais tarde com João Semedo Soares de Brito.
Os bens do Dr. António Bebiano, e de sua mulher Dª. Catarina de Vasconcelos transmitiram-se aos seus afilhados, Dr. José Joaquim Lopes Tavares e a sua mulher Dª. Catarina Fialho.
No espólio do Dr. José Joaquim Lopes Tavares, foi encontrada uma carta endereçada a sua filha Dª. Palmira Fialho Ferro Lopes Tavares Lobo da Silveira, em que para pagar os direitos de transmissão devidos pela herança da madrinha, e para perpetuar, a memória do Dr. António Bebiano Biscaia Hortas e mulher Dª. Catarina Mouzinho de Vasconcelos pelos gratos afilhados pertencentes à Família Lopes Tavares, lhe deixava na Companhia de Crédito Predial (uma quantia superior a 500 contos, para após o seu falecimento ser criado na Vila de Nisa, um Asilo de Mendicidade, instituído repete-se, para perpetuar a memória do D. António Bebiano Hortas e mulher, Dª. Catarina Mouzinho de Vasconcelos; o dinheiro para o Asilo de Mendicidade, sairia da grande fortuna de que era possuidor, já que a importância em depósito (500 contos) era exclusivamente do Dr. José Joaquim Lopes Tavares, uma vez que sua filha Dª. Catarina tinha sido considerada por ele simples depositária de tal quantia.
Ninguém em vida da Senhora Dª. Palmira Fialho Ferro Lopes Tavares Lobo da Silveira soube da existência dessa carta, a não ser a sua destinatária e o seu marido, o Senhor D. António Lobo da Silveira (Alvito).
E quando a Senhora Dª. Palmira faleceu em 26 de Novembro de 1945, sem testamento, na falta de outros herdeiros mais próximos, toda a avultada fortuna de mais de 10.000 contos que constituía a respectiva herança foi havida pelo seu viuvo, o Senhor Dr. António Lobo da Silveira (Alvito) não obstante terem sido casados em regime de separação absoluta de bens.
À esperança que o Povo de Nisa tivera de que, no caso da Senhora Dª. Palmira sobreviver ao marido, daquela fortuna uma apreciável parte seria destinada a obras de beneficência desapareceu.
O Senhor D. António não era de Nisa. Ninguém sabia das intenções que tanto o Senhor Dr. Lopes Tavares como a sua filha, Dª. Palmira Fialho Lopes Tavares haviam manifestado em vida.
Foi com grande surpresa que poucos dias após a morte de sua mulher, Senhora Dª. Palmira Fialho Ferro Lopes Tavares, mas ainda antes do seu falecimento, na intimidade conjugal, que Dª. Palmira lhe disse: “ Oh António, eu gostaria que após a morte de nós ambos os nossos bens fossem para os pobres de Nisa”.
Então o Senhor D. António puro e simplesmente, resolveu não aguardar mais tempo, despojando-se em vida de tão avultada fortuna, para dar cumprimento ao pedido do sogro e de sua mulher. Funda na Vila de Nisa uma Instituição de benemerência à qual deu o nome de : ASILO NOSSA SENHORA DA GRAÇA - FUNDAÇÃO LOPES TAVARES. Sua Excelência Reverendíssima, o Senhor Bispo de Portalegre chamou-lhe “ Rainha das Instituições de Caridade da Diocese”.
O Senhor D. António fica apenas a viver de uma modesta reforma de empregado bancário. Foi desenhador de real mérito, com colaboração no “ Jornal da Noite” e foi vogal e secretário da Direcção da Sociedade Nacional de Belas Artes, durante os anos de 1927 - 1931. Ficou com um quarto no Asilo Nossa Senhora da Graça - Fundação Lopes Tavares, mas por vontade expressa dos Membros da Direcção. Quando vinha a Nisa, ía para uma Humilde Choupana, onde comia e dormia com um humilde trabalhador rural, que tinha por alcunha o “Lobo Several”. Esse casebre foi visitado mais tarde, pelo Sub-Secretário do Estado da Assistência Social, Dr. Melo e Castro, o que fez com que o Senhor D. António mandasse por na fachada do aludido casebre, ou choupana, uma lápide de azulejos com a seguinte inscrição:
“1 de Junho de 1954
foi este covil honrado
com a visita do Senhor
Sub-Secretário de Estado da
Assistência Social
Dr. Melo e Castro e sua esposa”
Na parte superior da lápide está a figura de um lobo atravessado por uma espada, em alusão directa ao apelido dos habitantes do “ covil “ (o Senhor D. António e o seu companheiro caseiro).
O Senhor D. António faleceu em Lisboa, como já disse, e a trasladação do seu corpo para a vila de Nisa, deu-se em 24 de Novembro de 1985 tendo ficado sepultado no cemitério de Nisa, em campa rasa, como sempre foi seu desejo.
O Asilo Nossa Senhora da Graça - Fundação Lopes Tavares, foi inaugurado em 21 de Fevereiro de 1954, pelo Senhor Ministro do Interior, Dr. Trigo de Negreiros, que colocou no peito do Senhor D. António Lobo da Silveira (Alvito) as insígnias de Grande Oficial da Ordem de Benemerência com que foi agraciado pelo Senhor Presidente da Republica. No final da sessão no Cine-Teatro de Nisa, o Povo da vila de Nisa, e não só, levou aos ombros o homenageado, Senhor D. António, que por várias vezes veio a uma das janelas da varanda do Asilo agradecer as aclamações de que estava a ser alvo.
O Asilo Nossa Senhora da Graça - Fundação Lopes Tavares ficou a funcionar com 60 idosos de ambos os sexos em regime de internato; com a cantina escolar a dar almoços a 120 crianças da Escola Primária; a sopa dos pobres onde se forneciam duas refeições diárias a 60 carenciados; a casa de trabalho onde 70 raparigas faziam trabalhos de costura para a sua vida futura; e a creche com 50 crianças ao cuidado diário da Comunidade Religiosa, pois as mães levavam os filhos pela manhã para os ir buscar à tarde, enquanto labutavam nas tarefas diárias.
O Asilo Nossa Senhora da Graça - Fundação Lopes Tavares, manteve-se com esta designação por anos, até que por força do Dec. Lei nº 618/75 de 11 de Novembro, que dizia: “ Todas as pessoas de utilidade pública administrativa (que) deixam de manter qualquer estabelecimento ou actividade integrada na política social aprovada pelo governo será determinada... a respectiva extinção de direito e todo o seu património reverterá em propriedade para o Estado”.
A fim de evitar a aplicação de tal medida foi solicitada à Direcção-Geral da Assistência Social a criação de um Jardim de Infância a cargo da Misericórdia. Tal pretensão foi deferida e dá-se a integração de direito da Fundação Lopes Tavares e é nela integrada a Santa Casa da Misericórdia de Nisa, o que não obsta, a que continue a desenvolver a sua acção meritória em prol dos mais carenciados, dos sem abrigo, e de todos aqueles que procuram um tecto para dormir, ou uma sopa para comer. Para todos a Santa Casa da Misericórdia de Nisa - Fundação Lopes Tavares tem as suas portas abertas.
No 25º aniversário da morte do Senhor D. António Lobo da Silveira (Alvito) que ocorreu em 16/02/61 é descerrado um busto no átrio de entrada da casa doado por este grande benemérito da vila e concelho de Nisa.
Hoje a Santa Casa da Misericórdia - Fundação Lopes Tavares, encontra-se instalada no antigo Asilo Nossa Senhora da Graça - Fundação Lopes Tavares num palacete fins do Século XIX, e possui as seguintes valências:
Lar;
Centro de Dia;
Serviço de Apoio ao Domicilio;
Centro Infantil;
Extensão - Lar.
Tem na valência Lar 75 utentes mais 10 extra acordo e na Extensão - Lar 25 utentes (grandes dependentes) num total de 110 utentes,; 17 utentes no Centro de Dia; Serviço de Apoio ao Domicilio a 75 utentes. Estende a sua acção não só a Nisa, como ás povoações da Falagueira, Monte Claro, Chão da Velha, Cacheiro e Velada. Serve um total de 320 utentes. O Centro Infantil está permanentemente a trabalhar com 118 crianças dos 3 meses aos 6 anos. Tem instalado no rés do chão do Centro de Saúde de Nisa - Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Nisa-, a Extensão-Lar para grandes dependentes com 27 camas.
Inaugurou no dia 17 de Novembro de 1996 o Museu de Arte Sacra a funcionar na sala do Consistório da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Nisa. Fez um protocolo com Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Nisa, com contrapartidas para ambas as partes.
Adjudicou em 11 de Março de 1997 à Firma Firmino Fernandes Bispo Lda., com sede em Abrantes, a obra da cobertura do Edifício - Fundação Lopes Tavares- parte antiga cuja 1ª fase foi no valor de 84.000 contos, seguindo-se mais duas fases, um montante total, orçado pela citada firma em 138.500 contos.
Foi executado o projecto de delimitação, vedação e arranjos interiores da Praça de Touros de Nisa, pertença da Santa Casa da Misericórdia de Nisa - Fundação Lopes Tavares - , pelo que do mesmo consta, entre outras, a construção de casas de banho para homens e senhoras entre o sector Sol/Sombra ; cobertura dos camarotes com base na estrutura antiga; manter graficismo antigo da porta de entrada do cavaleiro, “ Entrada dos Cavaleiros”; bilheteiras e enfermaria; empedramento, ou seja, calçada no local destinado aos cavalos; arranjos dos curros com uma porta virada ao Bairro Luís de Camões.
Criou-se um novo espaço, para num futuro próximo, se poder dar lugar a uma permanência temporária em relação ás várias camadas etárias. Um médico e dois enfermeiros acompanham clínica e diariamente, todos os utentes e empregados da Santa Casa da Misericórdia de Nisa - Fundação Lopes Tavares.
No jardim, plantaram-se novas árvores, e criaram-se novas sebes, arrelvou-se o mesmo, e construiu-se nele uma fonte em granito, sendo a entrada principal através do antigo portão de ferro, que foi recuperado, e que dava acesso ao jardim da residência do Senhor D. António Lobo da Silveira (Alvito) e de sua mulher, Senhora Dª. Palmira Lopes Tavares.A varanda antiga da casa, foi transformada em solário. O refeitório e cozinha foram modernizados, e devidamente apetrechados com o material necessário às exigências actuais. A cozinha serve em média 500 a 600 refeições diárias, e mais de dois terços do Edifício da Santa Casa da Misericórdia de Nisa - Fundação Lopes Tavares -, foram completamento demolidos pelo que foi elaborado o competente projecto, e feita toda uma nova estrutura para minimizar o sofrimento dos nossos idosos que dormiam na parte velha - Fundação Lopes Tavares - , dando assim todos os Corpos Gerentes que passaram pela Santa Casa da Misericórdia de Nisa, sem excepções, continuidade e cumprimento rigoroso à vontade dos fundadores do Asilo Nossa Senhora da Graça - Fundação Lopes Tavares - , D. António Lobo da Silveira (Alvito) e de sua mulher, Senhora Dª. Palmira Fialho Ferro Lopes Tavares Lobo da Silveira.